sábado, 3 de janeiro de 2009

O Começo.


Segundo dia do novo ano. Olhando para trás, tenho a impressão de que ontem passou há muito mais tempo do que deveria. Desta vez não posso atribuir a intrigante sensação as razões citadas no post anterior -os tais acontecimentos que insistem em se repetir- mas sim a percepção de que talvez entre os dias 31 de dezembro e 1o de janeiro ocorra mais do que apenas um giro completo do globo.
Pergunto-me o que além das convenções associáveis ao réveillon lhe garante esta singular capacidade de distinção, de sempre torná-lo uma data passível de transpor a barreira do esquecimento? Afinal, por se dar em conjunturas bastante semelhantes (mesmos personagens, mesmo enredo), a noite da virada deveria seguir a tendência natural de se embaralhar com tantas outras já vividas. No entanto, a exceção dos muito bêbados, é comum nos lembrarmos com clareza de cada uma delas, ou pelo menos da maioria.
Procurar justificativas astrológicas, quiçá culturais, não teria força suficiente para sustentar qualquer teoria sobre o porquê dos 2 últimos dias parecerem ter ficado tão para trás. Desconfio que o sentimento de superação tenha algo a ver com o cruzar de uma fronteira, uma travessia que, preparados ou não, volta e meia precisamos fazer.
Neste caso, a principal distinção entre passado próximo e presente se relaciona com o abismo que há entre expectativa e realidade. Se para todos a última quarta-feira 2009 era um devaneio, uma idealização, a partir de ontem passou a ser real. As resoluções, os projetos, os planos saem de confortáveis especulações para abrigarem-se num imprevisível rol de possibilidades.
A impressão que tenho é resultante de um mecanismo que criamos para evitar frustrações, este mesmo que se encarrega de afastar os desejos para longe. Provém de nossa dificuldade em lidar com o que é concreto quando os sonhos ainda se encontram perto o suficiente para que as conquistas pareçam menores. Rituais como a passagem do ano são imprescindíveis porque nos ajudam a marcar a evolução do tempo, mas também podem adquirir o indesejável efeito de nos fazer acreditar que sonhos foram feitos para serem sonhados, e não vividos.
Neste exato momento, ao redor do mundo, é provável que milhões de pessoas estejam se imbuindo do que seja necessário para alcançarem seus projetos. Lamentavelmente este empenho costuma se esvair ao avançar do calendário. Espero que neste ano seja diferente. Porque, como diria Elis Regina naquela antiga canção do Belchior, “viver é melhor que sonhar”. Então, que em 2009, ao invés de sonhar, vivamos.
Este post foi publicado em
Instante Posterior, Sexta-feira, (02/01/2009), às 19h13.

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