quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O KOSOVO DA AMAZÔNIA!


Kosovo é uma região no sul da Sérvia, país que fazia parte da antiga Iugoslávia.

É um lugar muito especial para os sérvios, que o consideram o berço da sua civilização,

e é o local onde se desenrolaram os mais importantes eventos de seus 2 mil anos de história.


Para reforçar a sua política de integração o regime autoritário do presidente Tito

deu muitos incentivos às diferentes minorias étnicas, entre outras, à albanesa,

já que a Albânia faz fronteira com Kosovo. Jornais de língua albanesa, noticiários, escolas...

pouco a pouco, em razão dos incentivos governamentais, a população de Kosovo

foi se tornando predominantemente albanesa. Quando do fim da União Soviética,

seguido do desmembramento da Iugoslávia, os kosovares albaneses aproveitaram o momento oportuno para reivindicar a independência de Kosovo. Os sérvios, indignados, negaram qualquer possibilidade de acordo.


Criou-se uma polêmica entre os outros países.Juristas

especializados em direito internacional consideravam

a reivindicação improcedente.

Por outro lado, muitos opinavam que

a solicitação era justa dada a maioria esmagadora da atual

população ser albanesa. Quem está com a razão?


É uma questão difícil de ser respondida e para cada argumento

haverá um contra-argumento. Kosovo já proclamou unilateralmente

a sua independência, apoiado pelas potências européias. A Sérvia

vive um impasse político: recusar e perder para sempre a fonte da

sua identidade cultural ou concordar, comprando assim o seu

ingresso na União Européia.


Recentemente, a Rússia invadiu a Geórgia para garantir a

autoproclamada independência da Ossétia do Sul, baseada no fato

de que a população dessa região é predominantemente russa. Ante

as críticas do Ocidente, a Rússia rebateu dizendo que a situação é

idêntica à de Kosovo, em que os países ocidentais, liderados pelos

EUA, reconheceram a proclamação unilateral da independência.

No fundo, à margem de julgamentos éticos, cada país está apenas

defendendo os seus interesses: os EUA minando a Sérvia,

tradicional aliada dos russos e enclave estratégico nos Bálcãs,

e a Rússia, em contrapartida, enfraquecendo a Geórgia, aliada

dos norte-americanos.


O propósito deste artigo é alertar para a situação similar em que se

encontra o Brasil em relação às reservas indígenas na Amazônia.

Tomemos como exemplo a reserva ianomâmi, no extremo norte

do Brasil. Não é de hoje que diversos países estrangeiros vêm

questionando a soberania brasileira na Amazônia. Grande parcela

da população no exterior considera a Amazônia patrimônio da humanidade e,

portanto, defende a idéia de que o controle e a gestão desse “pulmão do mundo”

não deveriam estar concentrados num único país.

As notícias recorrentes de desmatamentos e

queimadas monumentais, de descaso e corrupção das autoridades

e da total falta de infra-estrutura do governo para fazer valer a lei

não contribuem para melhorar a imagem do Brasil no exterior.

Junte-se a isso o fato de que os índios na reserva

se autodenominam “nação ianomâmi”, de etnia, cultura e língua totalmente distintas,

detentora de um vasto território fronteiriço e bem demarcado,

e teremos uma situação potencialmente explosiva.


Os “nossos” índios, em sua maioria, vivem num limbo socioeconômico-cultural,

marginalizados como brasileiros e vivenciando o pior da civilização moderna.

Eles percebem o governo como o grande obstáculo que os impede de explorar

os imensos recursos minerais, biológicos e energéticos das terras

herdadas de seus antepassados.Vamos imaginar um agravamento drástico das relações internacionais e uma deterioração das relações Brasil-EUA,

a exemplo do que já ocorre entre os EUA e a Venezuela.

Somemos a isso um eventual aprofundamento da ainda longe

de ser superada crise boliviana

ou o reaquecimento do confronto Venezuela-Colômbia,

polarizando a geopolítica sul-americana.


Vamos supor que a Rússia aumente ainda mais a sua presença militar

no continente por meio de sua parceria com a Venezuela

e com os outros aliados. Aproveitando a oportunidade, a “nação ianomâmi”

declara a sua independência. Imediatamente,

diversas entidades ambientais apóiam o ato,

seguidas do reconhecimento diplomático dos EUA

e dos países que estão na vizinhança do território.

Outras reservas indígenas seguem o exemplo,

desmembrando o Brasil.A moeda de troca é fácil de encontrar:

independência para os índios, dando-lhes o direito de usufruir

os recursos minerais e ambientais de suas terras. Em contrapartida,

ao mundo é feita a promessa de uma exploração racional dos recursos,

implantação de lei e ordem na região, viabilizando a preservação do ecossistema.

Aos EUA é dada exclusividade na produção

e comercialização dos produtos e, principalmente,

em acordos para a instalação de bases militares

estrategicamente situadas no centro do continente,

como contrapeso à expansão russa. A redução do poder brasileiro

é vista com bons olhos pelos países vizinhos,

ainda ressentidos das diversas disputas territoriais

perdidas para o País no passado. Kosovo

e Ossétia do Sul servem de jurisprudência

e uma força internacional de “paz” é formada

para garantir a independência dos novos países.


Imaginação fértil? Antes da crise balcânica,

se dissessem a um sérvio que Kosovo seria anexado pela Albânia

em poucos anos, ele certamente chamaria o interlocutor de insano.

No entanto, é isso o que está acontecendo.

Num mundo cada vez mais dependente de espaços livres

e recursos naturais, a pressão externa sobre a Amazônia

será cada vez maior. Agir preventivamente, com a adoção de políticas adequadas

e investimentos condizentes com a amplitude do problema,

é a única forma de garantir a soberania para as gerações futuras.

Artigo original de Predrag Pancevski, mestre em Economia e Finanças,

professor na Fundação Getúlio Vargas, nasceu em Belgrado, na antiga Iugoslávia E-mail: pancevski@fgvmail.br

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