A utopia de um tornou-se, enfim, a realização do outro; hoje, pela manhã, o astro dos filmes “Cara, cadê meu carro?” e “Recém Casados” declarou-se vencedor da batalha que travava com a poderosa CNN. O motivo da peleja? Qual dos dois perfis seria o primeiro a contabilizar a marca de um milhão de seguidores no Twitter.
A inofensiva disputa assumiu contornos épicos e chegou a polarizar os usuários da rede social, a partir do momento em que ficou evidente o que estava realmente em jogo. Afinal, o que devemos concluir deste episódio que resulta na consagração do ator –célebre por ter apresentado um programa de pegadinhas na MTV americana e por ser casado com Demi More- frente à mundialmente prestigiada rede de notícias?
Antes de responder à pergunta, cabe mencionar que não há muito o Twitter gozava de pouquíssimo prestígio. Criado em meados de 2006, o site de compartilhamento de mensagens instantâneas parecia ter encontrado sua vocação justo onde está o calcanhar de Aquiles de seus antecessores. O formato que limita as postagens a 140 caracteres, na prática, representou um convite à disseminação de relatos sem relevância sobre o cotidiano dos usuários.
Aos poucos, o aparente empecilho, decorrente da obrigatoriedade de postar textos pequenos, passou a ser enxergado como uma forma prática e direta de comunicar. A adesão de profissionais respeitados em diversas áreas, atraídos pela agilidade com que circula a informação pelo Twitter, serviu para confirmar a tese de que havia um grande potencial a ser explorado por quem se aventurasse pela rede.
Assim ao menos deviam pensar os integrantes do comitê eleitoral de Barack Obama, que apostaram (e acertaram) na capacidade do site virar a vedete de um dos mais significativos pleitos da história dos Estados Unidos. Como se não bastasse, em janeiro deste ano foi de um usuário da rede o furo do fantástico acidente que culminou no pouso de emergência, sem vítimas, de um avião comercial lotado nas águas do rio Hudson. Ambos os fatos devem ter colaborado para que o Twitter crescesse 131% apenas no mês passado.
Se não restam dúvidas quanto à relevância do que pode vir a ser compartilhado na rede, o mesmo não deve ser dito sobre o reinado que Kutcher acaba de conquistar. Envaidecido pela comprovação de sua fama, caprichou no discurso: “Isto é como Davi versus Golias. E mostra como as pessoas querem ser informadas. Isto é sobre nós. Significa que um homem pode ter mais voz que uma rede de noticiários”. Apesar de ter associado sua marcha triunfante ao combate à malária –o ator comprometeu-se em contribuir na prevenção da doença- a impressão que fica é a de que sua maior motivação foi mesmo inflar o próprio ego.
A disputa em que se meteu inaugura a segunda etapa da “Era Twitter”. Confirmadas influência e popularidade, resta ficar claro que a rede consolidou em definitivo sua transição: do voyeurismo das amenidades da vida alheia à importante engrenagem da nova ordem que regerá a informação neste século. Para isto, um bom começo seria dissociar-se de imediato da imagem de Kutcher.
Este post foi publicado em Instante Posterior, sexta-feira, (17/04/2009), às 16h54.
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